E ao virar a esquina viram a cara ao medo, fugindo à admissão do que deve ser mantido em segredo. E a recusa recicla, numa mentira que engolem, num comprimido as riscas para esquecerem enquanto dormem. E ninguém quer saber, ninguém tem de o fazer, podem passar pela montra, olhar muito e nada ver. E enquanto na cama sonham o que não mais vão lembrar, nem sonham o que o dia seguinte os faz esperar. Uma matilha de corredores ávidos por atingir algum sítio seguro, onde não os possam mais tocar, e assim isolam-se em caves e jaulas, e noutros sítios de encantar, reduzem-se a vermes e engolem as chaves das casas de paredes em ruínas, ficam presos em si, as suas vidas, ao seu corpo sem comer ou beber, com medo de sair, arriscar e morrer.
Deus, qual Deus? Onde está e quem é? Pago a quem me der o local onde posso encontrar esse Zé. Zé-ninguém, impotente, inconsciente e demente, que nos joga como marionetas numa roleta de vergonhas e consciências, que apenas nos acorda as dormências para fazer doer onde não existe, que nos leva a gritar, em prova que o espírito está perdido, mas o corpo ainda resiste. Deus? Qual Deus? Qual perdão? Qual misericórdia? Enquanto muitos morrem e matam-se pela discórdia que é Deus! Qual Deus? Qual bicho ou criatura, qual pedaço de madeira? Vela ou escultura? Pessoa nova ou velha? Homossexual ou racista? Lobo de raça mista? Deus? Qual deus? Quando o vir na rua vou matar esse filho de Puta!