1 de fevereiro de 2011

Trabalho de Português: Redigir uma página de um diário de carácter pessoal

22 de Fevereiro de 2011

De repente tudo ficou como que em efeito de Polaroid invertido. Pararam os gritos, os abanões e todo aquele frenesim de confusão auto-suficiente e aparentemente interminável começou a lentamente esbater se no filme, até desaparecer. Bati a porta e saí. Nem sei porque, penso que foi uma impulsiva vontade de fugir daquele antro de loucura e incoerência, sem forma, entendimento ou tamanho, sem porquês ou salvação. Daquele sitio onde ninguém quer entrar e do qual não posso sair, não definitivamente, não por enquanto.

Durante um quarto de hora vagueei pelo quarteirão deserto e mal iluminado, rumando depois às ruas mais movimentadas de gente, gente que corre de um lado para o outro numa ânsia pela vida nem se dar conta que a mesma se perde a cada passo rápido que dão.

A lua encontra-se gorda e alta mesmo por cima das nossas insignificantes formas, e eu, num estado de alienação do que me rodeia e onde me encontro, vou deambulando erraticamente olhando o céu, os prédios, as árvores, os pormenores de milhares de azulejos, beiras de janela e folhas que me passeiam diante os olhos. É silêncio puro que ouço, uma paz imensa que sinto, mesmo encontrando-me num banco de pedra, num dos lados de uma larga rua onde passam ora jovens criaturas, ora veteranos da existência, rindo e falando a alta voz, já meio embriagados pelo espírito desta intensa cidade, ou talvez apenas pelo álcool já ingerido.

Agora que pauso a minha caminhada, e sentindo o frio da dura pedra a trespassar-me a roupa, sinto a mesma angustia que sentira antes de correr daquela porta fora, apoderando-se violenta. O peito encolhe, os pulmões colapsam, as mãos tremem e os olhos enchem-se de lágrimas. Vejo-me em aflição neste descontrolo emocional repentino.

A tristeza faz a sua entrada, poderosa e estonteante.

Levanto-me e precipito-me rua abaixo. Atropelo uma ou outra pessoa, na esperança de que se andar depressa o vento me seque as lágrimas da cara e me acalme a fúria que corre no sangue.

Começa a chover e abrigo-me na entrada de um prédio. Que estou eu a fazer? Que ideia dramaticamente teatral e absurda a minha de andar a vaguear pelas ruas, sem rumo, guardando perdição e desespero nos bolsos.

Limpo a cara com as mãos, limpo as mãos ao casaco, cubro a cabeça com o carapuço e subo rua até ao metro. A noite vai longa, as pessoas são poucas, a viagem é monótona. A banda sonora é composta pelos elementos clássicos: carris a chiar, as pessoas a tossir, som de passos dos que entram e dos que saem, a voz anunciadora da próxima paragem, e um ou outro ruído proveniente de uma qualquer tecnologia.

Saio do metro e passo ante passo dirijo-me a casa. O caminho não é longo, porém parece mais penoso debaixo da agora intensa chuva. Chego, meto a chave á porta e com cautela entro. Todos dormem. Tiro os sapatos, a roupa molhada, passo a cara por água e enfio o roupão. Pego no papel e escrevo este desatinado, porém verídico, relato meu. Arquivarei o papel escrito na capa, arrumarei a capa na terceira prateleira da estante ao lado da janela.

Fecharei as cortinas, irei para a cama.

Não sou triste. Sou só um homem solitário. Apenas um homem…