E tudo está como deve estar. As nuvens subiram ao céu e encontrei o meu casaco. Aperto-o botão a botão devagar saboreando o bom de me acomodar no meu casaco, ponho a boina, calço as luvas e saio á rua. A chuva cai e eu não quero saber, e enquanto o meu cabelo vai humedecendo tiro as luvas e meto as mãos nos bolsos, nos bolsos do meu casaco. Por piada ponho os óculos de sol, e vou assim, nas ruas da cidade sorrindo as pessoas que ora retribuindo ora fazendo caras de indignação ao verem a minha personagem, dão os passos seguintes seguras que sou louca ou que simplesmente perdi o juízo. E eu feliz, de luvas a espreitar da carteira a tiracolo, mãos nos bolsos do meu casaco abotoado, boina e óculos de sol, desço a rua como se estive num mundo só meu, indiferente ás pessoas a quem alegremente sorrio. O mundo está chuvoso e zangado, a chuva molha e atrapalha quem na rua passa, por isso, deixem as pessoas estar. Já eu vejo o mundo pelos meus óculos como se tratasse de um filme antigo em sépia, em que chuva cai e eu vou de encontro com qualquer alguém que me espera numa ponte além caminho. O mundo é chuvoso e jubilante e eu miragino mundos e encontros dentro do mundo de mim. É tudo belo, tudo a sépia, é tudo meu.
Sou eu, no meu mundo sépia, de luvas a espreitar da carteira que levo ao ombro, de mãos nos bolsos do meu casaco abotoado, de boina e óculos de sol, feliz e sorrindo ao mundo que sai a rua para me ver passar.