A alegria é tanta que não te consegues conter.
Escreveste tudo como devias, deixando todos os endereços necessários e existentes. Melhor era impossível.
Metes a carta no marco do correio inspirando fundo, e após um momento de reflexão e uma sensação de missão comprida voltas a correr para casa.
Comes, lavas os dentes, lavas a loiça, sentas-te no sofá, ligas a televisão, depois de uma meia hora de zapping desligas, levantaste e vais para o computador, depois brincas com o gato, comes, lavas os dentes, lavas a loiça, sais, voltas, deitas-te e dormes.
Levantas-te, lavas os dentes, tomas banho, veste-te e sais. Voltas. À entrada, verificas o correio: nada, muito bem, ainda só passou um dia... Entras, verificas o email: nada, só passou um dia, okey. Repetes a rotina, jantas e deitas te.
Acordas, verificas o email: nada, ainda é cedo, tudo bem, mas..., não, ainda é cedo...Vais trabalhar, à saída verificas o correio: nada, muito bem. Vais e sais. Todo um dia de trabalho em ansiedade. Voltas, verificas o correio: nada, porra! Verificas o email, um email novo: será agora? Respiras fundo: jantar de empresa, nada de importante. Jantas mal e deitas-te.
Passa uma semana, duas. Os nós dos teus dedos estalam, a tua cabeça anda em circulos. Qualquer mensagem escrita, email, carta, telefonema fazem o teu coração disparar a mil.
1 mês, chegas a casa, verificas o correio, uma carta para ti, nem respiras, abres, é apenas do dentista, atiras a carta para o correio, não queres saber, não comes, deitas-te automaticamente no sofá em transe em frente a uma televisão desligada até adormeceres.
No emprego já não te concentras, os teus amigos não conseguem falar contigo, a tua namorada diz que estás diferente. Todos sabem o que se passa, todos sabem o que é, mas nenhum percebe, nenhum se atreve a trespassar essa barreira de quase loucura em que tu te encontras.
Já lá vão 2 meses.
Acordas, levantaste e não verificas o email, não vais trabalhar, não comes, tocam a campainha, é a tua vizinha de cima, já lhe vais fechar a porta na cara quando vês que ela tem uma carta na mão. Boa.. reunião de condomínio.
- Querido, deixaram-me isto á umas semanas no meu correio. Eu estive na casa da minha filha, só hoje voltei e vi. É para si jovem.
Tiras o papel da mão a senhora e agradeces. Ela vira costas mas nem te das ao trabalho de fechar a porta. É a carta. A carta. É tudo o que esperavas. Abres, sem ler, e encostaste à parede. Já nem queres saber o que diz.
Finalmente paz de espírito.
3 de outubro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário