28 de outubro de 2010


Estou cansada de ser a pessoa maior, agora é o que eu quero.
Mas como?

25 de outubro de 2010

A linha de recta final da sanidade é ténue e eu não quero. A realidade é a irrealidade do impossível. Não, não quero trespassa-la. Deixem-me adormecer, deixem-me ceder à vã loucura dos sonhos, nivelados por teias e estádios de doença esquizofrénica cardíaca. Quero flutuar naquela meia verdade que é a morte, de modo a sentir no corpo a crueldade dos feitos. Quero viajar no tempo e ser tomada por bruxa, santificada pelo fogo, extinta pela purificação da alma de quem é errante. Por vezes o simples seria grato de o ser, por vezes um mapa não seria demasiado simples. Por vezes o destino podia ceder a vontade e os conselhos dançar a volta da peste  negra de mim. Que doença de cheiro, que mal, que pecado, que coisa doutro mundo. Feitiço ou um raio do céu. Simples impasse e monotonia do irreal. Não quero morrer antes de saber o que quero, não quero morrer antes de ter o que preciso. Não quero continuar a tropeçar nos pés.

7 de outubro de 2010



E tudo está como deve estar. As nuvens subiram ao céu e encontrei o meu casaco. Aperto-o botão a botão devagar saboreando o bom de me acomodar no meu casaco, ponho a boina, calço as luvas e saio á rua. A chuva cai e eu não quero saber, e enquanto o meu cabelo vai humedecendo tiro as luvas e meto as mãos nos bolsos, nos bolsos do meu casaco. Por piada ponho os óculos de sol, e vou assim, nas ruas da cidade sorrindo as pessoas que ora retribuindo ora fazendo caras de indignação ao verem a minha personagem, dão os passos seguintes seguras que sou louca ou que simplesmente perdi o juízo. E eu feliz, de luvas a espreitar da carteira a tiracolo, mãos nos bolsos do meu casaco abotoado, boina e óculos de sol, desço a rua como se estive num mundo só meu, indiferente ás pessoas a quem alegremente sorrio. O mundo está chuvoso e zangado, a chuva molha e atrapalha quem na rua passa, por isso, deixem as pessoas estar. Já eu vejo o mundo pelos meus óculos como se tratasse de um filme antigo em sépia, em que chuva cai e eu vou de encontro com qualquer alguém que me espera numa ponte além caminho. O mundo é chuvoso e jubilante e eu miragino mundos e encontros dentro do mundo de mim. É tudo belo, tudo a sépia, é tudo meu. 

Sou eu, no meu mundo sépia, de luvas a espreitar da carteira que levo ao ombro, de mãos nos bolsos do meu casaco abotoado, de boina e óculos de sol, feliz e sorrindo ao mundo que sai a rua para me ver passar.

5 de outubro de 2010

Tão bom,
Tão bem,
Tão certo,
Onde devo estar,
Como devo estar,
Quando quero estar,
Tudo onde é suposto, tudo perfeito.

3 de outubro de 2010

A alegria é tanta que não te consegues conter.
Escreveste tudo como devias, deixando todos os endereços necessários e existentes. Melhor era impossível.
Metes a carta no marco do correio inspirando fundo, e após um momento de reflexão e uma sensação de missão comprida voltas a correr para casa.

Comes, lavas os dentes, lavas a loiça, sentas-te no sofá, ligas a televisão, depois de uma meia hora de zapping desligas, levantaste e vais para o computador, depois brincas com o gato, comes, lavas os dentes, lavas a loiça, sais, voltas, deitas-te e dormes.

Levantas-te, lavas os dentes, tomas banho, veste-te e sais. Voltas. À entrada, verificas o correio: nada, muito bem, ainda só passou um dia...  Entras, verificas o email: nada, só passou um dia, okey. Repetes a rotina, jantas e deitas te.

Acordas, verificas o email: nada, ainda é cedo, tudo bem, mas..., não, ainda é cedo...Vais trabalhar, à saída verificas o correio: nada, muito bem. Vais e sais. Todo um dia de trabalho em ansiedade. Voltas, verificas o correio: nada, porra! Verificas o email, um email novo: será agora? Respiras fundo: jantar de empresa, nada de importante. Jantas mal e deitas-te.

Passa uma semana, duas. Os nós dos teus dedos estalam, a tua cabeça anda em circulos. Qualquer mensagem escrita, email, carta, telefonema fazem o teu coração disparar a mil.

1 mês, chegas a casa, verificas o correio, uma carta para ti, nem respiras, abres, é apenas do dentista, atiras a carta para o correio, não queres saber, não comes, deitas-te automaticamente no sofá em transe em frente a uma televisão desligada até adormeceres.

No emprego já não te concentras, os teus amigos não conseguem falar contigo, a tua namorada diz que estás diferente. Todos sabem o que se passa, todos sabem o que é, mas nenhum percebe, nenhum se atreve a trespassar essa barreira de quase loucura em que tu te encontras.

Já lá vão 2 meses.
Acordas, levantaste e não verificas o email, não vais trabalhar, não comes, tocam a campainha, é a tua vizinha de cima, já lhe vais fechar a porta na cara quando vês que ela tem uma carta na mão. Boa.. reunião de condomínio.
- Querido, deixaram-me isto á umas semanas no meu correio. Eu estive na casa da minha filha, só hoje voltei e vi. É para si jovem.
Tiras o papel da mão a senhora e agradeces. Ela vira costas mas nem te das ao trabalho de fechar a porta. É a carta. A carta. É tudo o que esperavas. Abres, sem ler, e encostaste à parede. Já nem queres saber o que diz.


Finalmente paz de espírito.