21 de setembro de 2010

  A libertação do nada numa exalação profunda no fim da morte, seguida pela extrema e bruta inalação da Vida.
  Viver Liberto a viver morto. Viver jovem eternamente. Tão tenras as idades presentes, tão voláteis as consciências, tão pesados os corações! Pena que se tenha de viver uma e outra vida de prisão para se viver Liberto por fim. Por vezes mil vidas não chegam, as almas vagueiam aprisionadas. Só alguns atingem este estado.
  Liberto. Ser-se velho e sábio em novo e vigorante corpo, ser-se fiel a consciência de nós , dar asas a pena que é o coração. Sem culpa, sem raiva, sem ressentimento. Numa compaixão natural e preocupação controlada pela sensatez do conhecimento. Num senso de proteger, de fazer e ver crescer. Numa resignação revoltada e sensata. Num equilíbrio mestral. Numa acreditação humana para além do sobrenatural, em esperança de mais e mais, sempre mais. Ciente de capacidades e influências, gestor e manipulador de felicidades. Nesta vida que não é Vida mas sim prisão, existem os Libertos. Almas antigas. Seres superiores a nível humano, a nível intelectual e a nível físico, magnetizantes. Fascinantes. E vivem quase em sociedade. Encontram outros seus iguais pelo percurso e criam ligações transcendentais, como se fosse por força a necessidade de se encontrarem e se manterem por perto.
  Todos os Libertos se encontram adormecidos até uma certa idade. Uns desde sempre que têm uma superior intuição para o sublime de si próprios, outros apesar de especiais mantêm-se adormecidos, mas certeza é que todos os Libertos despertam a certa altura da Vida. Ao ser encontrado por um Liberto, o aspirante adormecido torna-se seu aprendiz e é estimulado por conversas e experiências que lhe transmitindo conhecimento ou não lhe vão acordando a parte adormecida em si. Toda uma ligação eterna fica entre o mestre Liberto e o seu aprendiz, da qual o aprendiz se liberta a certo ponto mas o mestre se mantém dependente. Para certos mestres é difícil, muito perdem-se após o seu primeiro aprendiz, outros mantém-se fortes e vão doseando as relações que mantêm com os próximos para que a sensação de perda e dependência seja mais branda. E assim cresce outro Liberto que não parará de evoluir até a Morte do Corpo.
  A função dos Libertos mais evoluídos é precisamente identificar esses aspirantes e acorda-los. Se um Liberto se engana e toma uma normal pessoa, ou seja, uma alma jovem, por seu aprendiz, a informação transmitida pode levar a pessoa à insanidade ou a depressão, pois a alma não está preparada e perde-se em si mesma.
  Mas não são apenas as almas jovens que se perdem aquando o confronto de ideias, também os Libertos correm esse risco. Alguns enlouquecem pois não doseiam correctamente o fluxo de consciência, outros deixam-se levar pelo corpo e corrompem-se. Fazem-se Deuses aos olhos das almas jovens. Abusam do seu magnetismo. Um Liberto não pode evitar uma certa altivez pela consciência do que é, do que atingiu e do que representa mas nunca se deve exibir cru a almas jovens, que pela ignorância o podem adoptar por algo maior, realmente Divino, arriscando o erudito do Liberto. A acreditação do Divino leva ao desejo, e por mais que as almas jovens desejem um Liberto, só outro Liberto tem a capacidade de partilhar, também pelo desejo, a quase perfeição de outro ser Liberto. Os Libertos pertencem uns aos outros. As almas jovens que ocorrerem pelo caminho do Liberto não passam de danos colaterais da emoção e carnalidade, pois um Liberto só verdadeiramente se entrega a outro seu igual. É dispensável por isso as relações com jovens almas que por obrigação não passaram de distracções. Não se deve fazer uso delas, é abuso. Corrompe o sublime.
Além que nenhuma dessas almas sairia intacta. A influência, mesmo a carnal, de um Liberto obriga-as a uma evolução forçada que só atrasa o percurso das suas almas. É uma forma de protecção, não de elitismo.
  Ser Liberto é uma responsabilidade, é uma função. Há que sempre haver a consciência do dever pois é um privilégio ser-se Liberto.

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